domingo, 19 de outubro de 2008

Fabio Assunção " A Grazi está mandando muito bem."

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Fábio Assunção parece pisar em ovos quando conversa sobre Heitor, seu protagonista em Negócio da China. Distante das novelas desde que viveu o mocinho Daniel, em Paraíso Tropical, no início deste ano, o ator passou por uma fase avessa ao perfil de seus personagens bom-moços.

Foi flagrado pela polícia num flat com um traficante paulistano, que estava com drogas.

Visivelmente tenso para não ser abordado sobre o assunto, o paulistano de 37 anos só relaxa mesmo quando reflete e avalia que sua carreira não foi abalada com os rumores negativos. Muito pelo contrário. Fábio foi convidado por Roberto Talma, diretor geral da trama de Miguel Falabella, para encarnar mais um galã em seus 18 anos de carreira.

Na pele do acomodado mas apaixonado Heitor, Fábio se mostra absolutamente envolvido pelo personagem que faz um curioso par romântico com Lívia, de Grazi Massafera. Na história, o casal tem um filho de 11 anos, interpretado por Eike Duarte e, apesar de ainda ser apaixonado, se depara com uma série de fatores que os mantêm separados. "Este personagem foi irresistível, assim como o convite sedutor do Talma para a novela. Estou muito focado na minha carreira e esse papel é um dos mais leves que já fiz. É um cara absolutamente comum", observa Fábio, sério, contraindo seus grandes olhos azuis.

Antes de protagonizar Negócio da China, você foi escalado para atuar em A Favorita, chegou a fazer as primeiras leituras do texto, mas deixou a trama em seguida. O que aconteceu?

Deixei a novela porque precisava estar bem para fazer direito um personagem. Tem horas na vida que você não está disponível para fazer bem. Não vou entrar numa novela sem estar inteiro e nem fazer sem o nível de qualidade que considero mínimo, entendeu? Acho que só agora estou pronto para me entregar para um personagem e fazê-lo da melhor maneira possível.

O que o levou a aceitar o papel em Negócio da China, num horário que a audiência estava baixa e numa novela do Miguel Falabella, com quem você nunca trabalhou?

O Maurinho (diretor Mauro Mendonça Filho) e o (Roberto) Talma são meus amigos. Já dei muitas festas com o Maurinho e trabalhei com o Talma em 92 (na novela De Corpo e Alma). O Talma me convidou de uma forma muito sedutora. Foi bacana.

Logo falei: "estou dentro". Além disso, tinha curiosidade de fazer algum trabalho do Miguel.

Era uma oportunidade de fazer comédia em um horário diferente. Estou amarradão!

Que características do personagem mais chamaram sua atenção?
O que é mais legal no Heitor é que ele é um cara comum. Viveu um grande amor com a mãe do filho dele. Eles se conheceram quando ela era muito nova. Depois, se separaram e ele continua apaixonado pela ex-mulher. Isso que é legal, tem humor também. Ele continua querendo a Lívia de volta e ela fica insegura. Isso sem falar no tom cômico das mães de ambos, superprotetoras. Isso cria confusões, é divertido.

Quais referências você trouxe para esse mocinho, que também é meio mimado e acomodado?
Tento fazer com que o público se identifique com ele. Tento deixá-lo humanizado, verdadeiro. O público quer ver conflito e verdade. Isso ele tem. Mas é um mocinho diferente dos outros que fiz. Não tem nenhuma ambição, trabalha no negócio da mãe (Luli, de Eliana Rocha). Ainda não se coçou para ter um apartamento. O bacana é que, apesar de anos focado nesse amor, a paixão ainda tem um frescor. Gosto do exemplo que o Miguel deu sobre essa relação com a Lívia, de uma tesoura que não corta, mas machuca. Também nunca tinha feito um personagem bairrista, que praticamente só grava em cidade cenográfica. Fazia mais papéis ricos, com muitas cenas de estúdio.

Você e a Grazi tiveram de regravar várias cenas do início da trama. Como você lidou com isso?
As pessoas pensaram que iríamos regravar a novela inteira. Mentira. Regravei apenas duas cenas com ela. Sinceramente não sei porque isso aconteceu. Outros atores também tiveram de regravar cenas. Esse começo é difícil. A gente tem de achar um tom e já existe uma expectativa grande pelo horário. Estamos entrando no horário de verão. Não temos tempo de buscar o tom no meio da novela. Precisamos estourar logo no início.

Também acho que regravar não é sinal de uma coisa ruim. Pelo contrário. É a busca de uma perfeição, de uma superação. Encarei isso de forma positiva.

Existe uma cobrança grande com a Grazi, por viver a primeira protagonista. De que forma isso interfere no seu trabalho?
Minha maior preocupação com a Grazi é buscar uma intimidade para convencer como um casal que já tem um filho de 11 anos. Estou adorando trabalhar com ela. Acabei de conhecê-la, mas ela tem uma luz muito positiva, um riso verdadeiro, uma vontade de fazer bem e de arrebentar. Na minha opinião, ela está mandando muito bem. Cada um tem sua história. Ela tem tudo para ser uma grande estrela e tem talento. Isso já é suficiente. Sei o que é ser criticado. Falaram muito mal de mim no início da minha carreira. Mas era concentrado e o que me interessava era a resposta do público.

O público até se interessou pela novela na estréia, que deu média de 30 pontos. Mas os números caíram nos capítulos seguintes. Esta audiência do horário das seis assusta você, que normalmente atua mais em tramas das oito, com números bem maiores?
A gente fica torcendo para ser o maior sucesso.

Moro em São Paulo e sei o quanto é difícil estar em casa às seis da tarde. Também sei que o público que vou ter não vai ser o mesmo de novela das oito. Quem está em casa neste horário geralmente são as pessoas que não trabalham.

Queremos não só manter o público que já existe, como trazer outras pessoas. Esse é o objetivo da Globo ao levar o Miguel para esse horário.

Geralmente temos obras de época, mais tranqüilas nesta faixa. Essa comédia, com ritmo mais acelerado, é uma intenção de fomentar mais interesse pelo horário. Estamos na torcida, mas também sabemos que não vamos conseguir lutar contra o horário de verão, por exemplo.

Em Coração de Estudante, última novela em que você atuou no horário das seis, você contracenava com o Pedro Malta, que vivia seu filho na história. Agora você atua diretamente com o Eike Duarte, que interpreta seu filho com a personagem da Grazi. Existem semelhanças entre os dois trabalhos?
Acho que sim. É muito familiar. Mas o Eike é bem mais rodado que o Pedrinho Malta em 2003. O Eike já fez filme da Xuxa, é um veterano (risos).

Contracenar com meninos me dá saudade do João, meu filho, que tem cinco anos. Ele mora em São Paulo com a mãe (a modelo e empresária Patrícia Borgonovi). Morro de saudades dele quando venho gravar no Rio. Mas trabalhar com criança é sempre uma aventura, principalmente neste horário.

Você tem alguma identificação com esta temática da China, das lutas, das cenas de ação?
A cada cena estou descobrindo um mundo diferente, leve, mais cômico. Esse ano comecei a virar meus olhos para a China com as Olimpíadas. Este país se destacou economicamente nos últimos tempos.

Mas minha maior identificação agora é de não ter nenhum compromisso com a realidade. É tudo uma brincadeira.

Parece que tem sido bem diferente das tramas mais densas do Gilberto Braga, com quem você trabalhou em tantas produções, como Paraíso Tropical, Celebridade, Força de Um Desejo, Labirinto...
Totalmente. Quando o Gilberto me chama para alguma coisa, nem pergunto o que é. Devo fazer a próxima minissérie dele na Globo. Não faço a mínima idéia do que seja, mas sei que vou estar em família. Para mim isso é fundamental.

Com 18 anos de carreira e vários protagonistas, o que leva você a aceitar um convite para um papel?
Cada trabalho tem uma aura e uma cor que precisa me agradar. Tem pessoas que não me instigam e aí não me interessa muito, mesmo que sejam grandes atores, um autor consagrado e um diretor maravilhoso. Acho mais legal estar num elenco divertido, com um amigo dirigindo, onde o trabalho seja mais familiar. É melhor que um trabalho com estranhos, mesmo que tenha uma expectativa maior de sucesso. Minhas opções sempre foram muito por aí.

Você teve uma série de problemas com drogas recentemente e, há pouco tempo, foi convidado para o programa Mais Você, da Ana Maria Braga, mas faltou a primeira vez. Na segunda, avisou dizendo que não iria. O que houve?
Não queria falar sobre isso. Já foi. Vamos conversar sobre coisas boas e positivas.

Paixão por cinema
Após tantas atuações em longas, Fábio Assunção já planeja estrear como diretor de cinema. "Não tenho vontade de dirigir uma peça ou novela. Mas preciso de uma idéia que mexa comigo e com o público. Isso ainda vai acontecer no cinema, onde o tempo é mais tranqüilo", avalia. Atualmente, nos intervalos da novela, o ator tem filmado o longa Do Começo Ao Fim, de Aloísio Abranches. Na história, Alexandre, personagem de Fábio, é casado com uma médica interpretada por Júlia Lemmertz, com quem tem dois filhos. "Esse trabalho conta a história de amor desses irmãos.
O meu personagem e o da Júlia vão envelhecer 15 anos", adianta, empolgado.

Desde que estreou na telona em 2000, com o longa Duas Vezes Helena, Fábio passou a bater ponto no cinema nacional. Filmou A Hora Marcada, no mesmo ano, Bellini e a Esfinge, em 2001, Cristina Quer Casar, em 2003, Sexo Amor e Traição, no ano seguinte, Espelho D'Água - Uma Viagem no Rio São Francisco, ainda em 2004, Primo Basílio, em 2007 e, no início deste ano, rodou Bellini e o Demônio. "Esse último foi um dos meus melhores trabalhos. Foi denso, pesado e o resultado ficou bárbaro. Me joguei como nunca", anima-se o ator.

Saudosismo épico
Dentre os mais de 17 trabalhos na TV, Fábio Assunção assume que teve uma queda especial por minisséries. Principalmente Os Maias, de Luiz Fernando Carvalho. Na trama lusitana, exibida em 2001, o ator interpretou o intenso Carlos Eduardo no folhetim adaptado da obra de Eça de Queiroz.

Na história, recheada de críticas sociais, Fábio fazia par romântico com Ana Paula Arósio. "Foi meu trabalho mais rico na TV. O Eça era uma espécie de Nelson Rodrigues de época", compara.

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