terça-feira, 14 de outubro de 2008

ATÉ PARECE NOVELA

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Fernando Lemos
DE SEREIA A PEIXÃO
O contrato com a Globo vai até 2012, assim como os de Marília Pêra e Susana Vieira

e que cruza os portões dos estúdios da Rede Globo, Grazi Massafera reza. É adepta, também, dos banhos de sal grosso. "É para me proteger", diz. Tem seus motivos. Em três anos e meio, passou de integrante do Big Brother Brasil a protagonista de novela. É dela o principal papel feminino de Negócio da China, escrita por Miguel Falabella, que estreou na semana passada no horário das 6. Aos 26 anos, ela se tornou também uma das celebridades mais requisitadas e bem pagas do mercado publicitário, com cachês na casa dos 500 000 reais por campanha. Para dar o ar da graça em eventos ou desfiles, cobra entre 35 000 e 65 000 reais. No momento, tem contratos com empresas como Avon, Azaléia e L'Oréal. Como se não bastasse, namora Cauã Reymond, o galã do momento. Haja sal grosso. Veteranos da TV ainda têm dificuldade de engolir seu destaque. Entre seus pares, o adjetivo recorrente para defini-la é "esforçada", um eufemismo para acentuar suas limitações dramáticas. Já em pesquisas de opinião feitas por agências de propaganda, as palavras mais usadas são "linda", "talentosa" e "vencedora".

Filha de ex-bóias-frias, Grazi foi babá e balconista antes de conquistar o título de miss Paraná e chegar à final do Big Brother. "O brasileiro tem uma irresistível atração pela menina pobre que virou o jogo. A Grazi, além do mais, é linda, o que torna sua figura ainda mais fascinante", diz Luiz Nogueira, vice-presidente de criação da agência de publicidade McCann Erickson. Em Negócio da China, a única mudança em sua imagem, por recomendação expressa da direção, é a neutralização de seu sotaque interiorano, principalmente os erres carregados. "É difícil me livrar do sotaque, mas já consigo pronunciar Heitorr", diz a moça, referindo-se ao personagem de Fábio Assunção, seu ex-marido na novela.

O responsável pelo lançamento de Grazi como atriz é Mário Lúcio Vaz, ex-diretor artístico e atual consultor da Globo. Quando terminou o BBB 5, ele a convidou para participar da oficina de atores da emissora. Um ano depois, Grazi já estava em Páginas da Vida, novela das 8 escrita por Manoel Carlos, no papel de Telma, uma simpática caipirinha em tudo parecida com ela própria, que terminou ao lado do galã Thiago Lacerda. A estréia não animou os demais noveleiros. Walter Negrão, autor de Desejo Proibido, a segunda trama em que Grazi atuou, não gostou quando a direção da Globo indicou seu nome para o elenco. "Olhei atravessado e lhe dei um personagem insignificante. Mas, como ela foi bem, acabou a novela quase como protagonista", diz.

Christian Gaul/Homem Vogue
COM TUDO EM CIMA A "esforçada" dá uma mostra de seu potencial dramático na foto para uma revista masculina

Com Falabella não foi diferente. Para o papel de Lívia, jovem batalhadora que quer mudar de vida, ele pensou inicialmente em Flávia Alessandra e Angélica, que declinaram. Depois cismou com a ex-paquita Juliana Baroni. Acabou topando o nome de Grazi, sugerido por Roberto Talma, diretor de núcleo da novela. Mandou refazer três cenas, mas gostou do resultado. "Estava tudo ali: medo, encantamento, pânico, tudo na medida certa", exagera Falabella, comentando a cena em que Lívia, ainda adolescente, descobre que está grávida. O fato é que, aos poucos, Grazi conquistou seu espaço. Ninguém mais fala mal dela nem a desdenha escancaradamente. Ao lado de atrizes como Alinne Moraes e Regiane Alves, ela faz parte do grupo que ganha salário na faixa dos 25.000 reais. Mas seu contrato é de longo prazo – até 2012 –, algo que a Globo oferece a estrelas da casa como Marília Pêra e Susana Vieira. Na trama de Negócio da China, sua personagem será amiga de Natália do Vale, justamente uma das atrizes que mais a hostilizaram em Páginas da Vida.

Atualmente, Grazi está completamente dedicada à novela. Tem dormido quatro horas por dia, parou de fazer ginástica e suspendeu as sessões de análise. Recusa a maior parte dos convites que recebe – são de vinte a trinta por dia, de propaganda de lava-jato a participação em festas infantis. Só não abre mão de conversar com o gerente do banco. "O olho do dono é que engorda o boi", justifica. Resta saber se todo esse esforço vai corresponder à expectativa da Globo em relação a Negócio da China. A novela veio para quebrar a seqüência de tramas de época e atrair o público jovem para o horário das 6. Com uma história que mistura roubo de cassino na China (daí o nome da novela) a cenas românticas com fartura de lágrimas, o folhetim se saiu bem na estréia. Alcançou 30 pontos de audiência, contra 26 de seu antecessor. Vamos ver ser será mesmo um negócio da China em matéria de ibope. Matéria-prima, ele tem. Chama-se Grazi.

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